Sinto falta do que vivi, mas isso não me impede de caminhar. 

Fazer de todos os bons momentos catalisadores do futuro e não amarras ao passado.

Aprendo a fluir com o tempo, com o rio, a ser infinita como o encontro de luz e água. 

Os últimos meses tem sido bagunçados.
Bagunçados de propósito. 

(dê o sentido que melhor lhe servir na frase acima)

Ando decidida. Pés firmes sobre a terra que segue girando. Não mais deixarei que a vida faça sentido só pelos traumas. Agarro todas as banalidades que me arrancam gargalhadas. Que elas me sejam mais que meus medos. Que elas que gritem quem estou. Me recuso a encontrar sentido só pela dor. 

Nada que vivi vai deixar de ser meu, mas me esforço para que isto não seja tudo. Carrego lutos, carrego decepções, carrego uma sociedade disfuncional e isso não posso mudar. Como não posso impedir de viver tantos outros percalços que me virão.  Não é sobre me ausentar da dor. É sobre me permitir vivê-la e me permitir partir dela, mesmo que diferente. Então acolher o que escolho fazer com a nova que sou. 



Rir é rito. Por coração pela boca e olhos.
Encontrar no caos, poesia e no Tempo, uma amiga.

Kintsugi

 Começo a me sentir confortável na minha pele. Os dias, o raio de sol, o café na varanda, o nascer e morrer das folhas que preenchem a casa voltam a parecer parte de mim. Ontem fui pega de surpresa pelas lágrimas ao final do filme. Passei 4 meses brigando; não com o mundo, mas comigo. Teimando com coração, cansando os olhos, sobrecarregando os ombros.

O que tenho feito com todas as frestas entre os cacos de vidro quebrado espalhados em mim? Ressignificado.

Não há como impedir as feridas, as dores, as rupturas e tudo que elas causam dentro. Não há como fazer uma vela que queimou até seu fim reacender. Quando velas se esgotam, acende-se uma nova.

Procuro as velas dentro de mim. Elas que alumiam estes cacos de vidro, elas que anunciam os vitrais que carrego no peito. É luz e sombra e não há como ser diferente.

Rejunto os sulcos da alma com mica e torno sagrada a minha existência, apesar das dores. Aleluia.

O primeiro deste ano

Ando aflita para escrever.
Não.
Ando aflita para escrever aqui.

Com frequência tenho sujado a lateral da mão direita de azul. Escrevo, escrevo, escrevo em papel sem pauta mesmo sabendo que não tenho a destreza necessária para não usar as linhas. Muitas vezes escrevo palavras soltas e frases que dizem profundidades nas quais ainda não consigo mergulhar.

A verdade é que as palavras tem me exigido o barulho dos dedos contra as teclas. Exigido de mim o deslizar dos dedos entre os espaços para que os textos se construam sem esforço. É como se na tentativa de escrever no papel, eu ainda tivesse controle e quando digito tac tac tac tac não tenho outra alternativa senão ser surpreendida pelo que escrevo.

No nosso último encontro tracei na perna entre desenhos desengonçados;"a eterna busca do erro" entre rabiscos de barcos, flores, espelhos, uma vela acesa e um pandeiro. Tenho tentado me permitir várias coisas. Dentre elas, ando trabalhando a ideia de que não há em mim os motivos que busco para a partida do(s) outro(s), vez e tanta ainda vacilo e você me puxa para perto. De certa maneira, aprendo sobre o cuidado.

A ansiedade se fez presente, mais uma vez e eu ensaio o inspirar lento e expirar fundo e ouço o som dos micos que gritam afoitos nos galhos e das maritacas que tagarelam do fio do poste e das cigarras que se exibem camufladas entre o tronco na tentativa de me recordar que há muita vida e há muita vida boa. 
Então trago para a memória pensamentos bons sobre o viver, as experiências e o tanto de mundo que existe por ai, feito de gente que dá vontade de experimentar a vida. 

Passo os olhos sobre o tempo, este que é amigo mesmo quando estamos em guerra ferrenha. Que sabedoria existe nesta carcaça que de tudo duvida? Como aprendo a confiar mais em mim para confiar mais no outro para acreditar mais no mundo?

Este mesmo texto, em outros tempos escreveria a fio sem saber muito bem por onde seria conduzida, como quem abre uma trilha nova em meio à natureza inebriante. Hoje, dou passos lentos por entre os parágrafos construindo um caminho de passos e marcações para que eu não me perca naquilo que sinto. Por um milésimo de segundo penso que há alguma sabedoria em respeitar o tempo de sentir com as mãos ao invés de correr desesperada por entre florestas sentindo as ranhuras de galhos que não vejo, brigando contra cipós com as mãos. Há uma sabedoria no descanso entre as frases, no observar o fundo do texto como quem conversa olhando fundo do olho para mostrar que quer sim entender e se conectar.
Então, escrever pausadamente é me permitir me conectar comigo.

des e re. aprendo.

Que 2024 se apresente em aventura.

366 dias corajosos.

E que se possa viver verdadeiramente o desejo de se colocar no mundo.

Que na bagagem do coração sempre tenha espaço pro novo.

Que tudo que passe por mim possa ser transformado pela beleza do amor, assim como me transformo eu.

E que a vida e a arte se misturem cada vez mais e mais e mais e mais.

 2024: O tempo caminha.

Lembrar de não levar a vida tão a sério.

 Um manifesto de desejo.

Depois de 2020, depois dos lutos, depois do grande esforço da vida. Foi arrebatador me reconhecer em mim. 

Recordar que tudo tudo tudo nessa vida é passageiro, inclusive as farpas do mundo que as vezes encravam e inflamam.

Repeti durante os últimos anos sobre a beleza do viver para que eu nunca mais me traísse ou duvidasse do quê de bonito que o cotidiano tem.

Eu tinha essa mania tola de querer resolver a vida toda entre os fins e começos e fins e começos quando na verdade a vida circula entre eles cheia de fulgor me apresentando a grandiosidade de absolutamente tudo que me cerca.

Andei calada, outras vezes aflita, tantas outras tão cansada de tentar estar presente sem saber muito como me colocar ali em meio ao desconforto.

Mas não é sobre o ontem. É sobre o hoje. Sobre o agora. Sobre o milésimo de segundo em que escolho olhar com delicadeza pra mim e pro mundo.

Ontem eu ouvi o episódio da @paradarnomeascoisas que dizia escolher viver um ano de coragem e verdade e achei de uma boniteza sem fim. 

Que 2024 se apresente em aventura.

366 dias corajosos.

E que se possa viver verdadeiramente o desejo de se colocar no mundo.

Que na bagagem do coração sempre tenha espaço pro novo.

Que tudo que passe por mim possa ser transformado pela beleza do amor, assim como me transformo eu.

E que a vida e a arte se misturem cada vez mais e mais e mais e mais.

 Há de se ter o momento de reconexão. Se permitir sentir. O vazio. O estranho. Encarar as manchas dos móveis que antes ocupavam espaços dentro dos cômodos do coração.

Há de se encarar o incômodo em não saber mais quem se é e nem o que fazer com aquela marca que te lembra que algo ali existiu e nao existe mais. 

Há de se querer o novo. 

Mas antes do novo há o nada.

O abismo.

Há de se encarar o abismo com doçura.

E o medo.

Há de se encarar o medo da falta.

Permitir o vento assobiar por entre as janelas e as próprias palavras ecoarem dentro.

Então quando tudo for parte...

Há de se encarar o novo.

Repasso o passado.

Esmiuço as memórias.

As andanças, os dias de sombras na parede à luz amarela do poste da rua. A gargalhada alta até cair no sono.

Penso que era pra ter sido endurecida pela vida.

Desagua o coração.

Para meu amor,

 de quem sou, daqui de 2023.


Eu não espero que você me ame como algum dia amou. Eu acredito que todo amor seja o primeiro e por isso, único. Eu espero que cê me ame desse jeito de mistério. Mistério esse sem grandiosidade, mas de quem descobre um cômodo novo quando se acende uma luz, quando se ouve uma música gasta e se descobre algo novo por dentro, sabe?

Eu não quero que o passado suma, nem que as dores passem, nem que o vivido se desfaça. Se foram os amores, as dores, o vivido, o sentido que nos fez trilhar o caminho que trilhamos e cruzar os dias por um momento e escolhermos cruzar mais e mais horas destes dias.

Eu não espero ser tudo. Nem ser precisada. 


Eu quero ser pensada com carinho e considerada pra planejar junto. Quero sentir a saudade mansinha no peito se preciso for afastarmos, quero aguardar a chegada nestes momentos, também. Quero confiar, de peito tranquilo, na ética da relação. Poder trazer os anseios que pesam o pulmão e que incomodam pra cuidarmos juntos do lar que construímos no peito um do outro. 


Quero ser livre e te permitir ser livre também, porque sabemos que nunca faltará tato com os sentimentos que escolhemos nutrir.


Eu demorei tempo demais pra escrever mansinho o que afligia meu coração. Esperei tempo demais as semânticas que jamais virão, porque o amor que expande em mim é amor de mesa farta, de coisa simples que alimenta tudo. 


Eu demorei tempo demais pra dizer que quando amar, amarei com quase tudo de mim. E eu espero ser amada com quase tudo de você. Que eu espero ser acolhida naquilo que ainda não consigo curar, como espero conseguir acolher você naquilo que ainda dói. Que o trato irrevogável seja o cuidado com os afetos e que nunca nos falte o carinho, principalmente nos momentos em que mais for difícil estar de peito aberto. 


Para plantar os dias juntos, para dividir as regas, para preparar cafés, para se irritar no caminho, para rir nos desencontros, para redescobrir como se reencontrar.


Que amor nos seja uma ética de vida, quando a gente se escolher se amar.


Esse é um trato que faço comigo, neste amor que cultivo, para que te amar não seja me desfazer de mim.


Sinto falta do que vivi, mas isso não me impede de caminhar.  Fazer de todos os bons momentos catalisadores do futuro e não amarras ao passa...